Pé na Bola

O futebol desembarcou no Brasil no final do século 19, em peladas promovidas por marinheiros ingleses e com os filhos da ‘elite nacional’, que retornavam dos estudos na Europa e traziam na bagagem artefatos (bola, livro de regras, e uniformes) do ‘novo jogo’.

 

Futebol Arte

Consta que em Taubaté o esporte chegou em 1904 pelas mãos do artista argelino Rafael Falco, o dono da bola, e também o dono do time. O time surgiu no Velódromo Taubateense que difundiu o esporte primeiramente entre os abastados da cidade, reunidos sob uma nova entidade, o Club Sportivo Taubateense.

 

À la Joel

“Para o conhecimento dos esportista e do povo em geral”, um folheto distribuído em 1904 procurava explicar as regras do futebol ao taubateano. O texto, carregado de termos em inglês, é digno dos comercias de xampú estrelados pelo técnico Joel Santana.

What?

Leia a um trecho da pérola:

“Os campos de cada team são escolhidos por meio de sorteio entre os capitains e o capitain que perder o toss (sorteio) determinará ao seu center-forward que dê centro o primeiro kick-o place-kick”.

 

Febre de Bola

Não adiantou tentar complicar as coisas para confinar o esporte nos clubes sociais. A febre do futebol se espalhou pela cidade sem pedir licença. Bolas improvisadas eram disputadas nas várzeas, nos terrenos baldios e em qualquer planície que comportasse um grupo de jogadores. Após 1904, times sem “pedrigree” pipocaram em todos os cantos do município.

Club Sportivo Taubateense. (Acervo Museu Histórico Paulo Camilher Florençano)

1º de novembro de 1914

Em 1914 o futebol não pertencia mais somente aos bem-nascidos. O Velódromo estava abandonado. O Taubaté Foot-Ball Club, sucessor do efêmero Sportivo, não andava bem das pernas. Os sócios não se sentiam representados adequadamente pelo time. Nesse ponto a figura do zelador do Velódromo se confunde com a história do futebol taubateano. Seu Moreira, mais conhecido como Moreirinha, é o nome de quem definiria, ainda que involuntariamente, o destino do futebol na cidade.

 

O Time é meu

Dizem que a zeladoria subiu tanto na cabeça do danado que em determinada tarde, às vésperas de uma importante partida, Moreirinha decidiu que seria o atacante do time. Assim mesmo, sem consultar ninguém. O abuso não foi tolerado. Os “colegas” de time cancelaram o jogo e puseram Moreirinha para correr… Literalmente.

 

Zorra total

O Bafafá daquela tarde provocou uma reunião urgente entre os esportistas revoltados. Sob a presidência de Irito Barbosa definiram a extinção do Taubaté Foot-ball Club e a criação de uma nova agremiação esportiva. Por sugestão de Synésio Barbosa, a agremiação foi batizada como “Sport Club Taubaté”. A reunião de 1º de novembro e a escolha do presidente só foram  documentadas duas semanas depois, considerando todos os presentes daquele dia fundadores do clube.

 

Casa nova

Depois da fundação do clube, foi preciso uma força-tarefa para viabilizar local, campo de treinos e jogos e um time treinado. Definiu-se que o Largo do Convento seria a casa do clube. O terreno, cedido pela Prefeitura, foi rapidamente preparado, com o aterramento de um córrego, construção do campo, colocação de alambrados. Enquanto isso, o time treinava no campo do Estrela Futebol Clube, time vizinho.

Gastão da Câmara Leal supervisiona o aterramento do que depois seria o Campo do Bosque, primeira sede do E.C. Taubaté.

Cinco presentes de natal 

O time foi estruturado rapidamente. No intervalo de pouco mais de um mês, os treinos eram feitos por um técnico, Dr. João Rachou, e com o campo pronto a partida inaugural foi marcada. O primeiro rival veio da capital paulista. Era nada menos que a Associação Atlética das Palmeiras, que seria o campeão paulista no ano seguinte. A partida de estreia do time taubateano foi no dia 25 de dezembro. O Sport Club Taubaté conseguiu marcar um gol no time paulistano, mas levou outros cinco de presente.

O jogo histórico

Naquele dia de Natal de 1914, o técnico João Rachou escalou o seguinte time:
Paulino, Sérgio Areão, Luís Simi, Hugo Cintra, Synésio, Irito Barbosa, Waldomiro Camargo, Paula e Silva, Renato Granadeiro Guimarães, João Moura e Jacynto Lopes.
“Apesar de tudo, a goleada do Palmeiras não tirou o estímulo dos taubateanos, e até mesmo lhes serviu de formidável estímulo”, disse um cronista. O autor do único tento taubateano foi Renato Granadeiro Guimarães.